Walter e as lendas
Diz a lenda que o futebol não permite mais que jogadores pesados, velhos ou que não suportem correr 90 minutos feito malucos de um lado pra outro, tenham espaço.
Diz outra lenda que o futebol brasileiro é mais técnico que o europeu, e por isso os veteranos vão mais longe aqui.
Diz também uma lenda local que o nível é tão baixo que até um gordo joga bola no campeonato brasileiro.
A verdade é que a diferença de jogo é brutal, especialmente na parte técnica. Enquanto o europeu se preocupa demais com todos os fundamentos e por isso “erra pouco”, o brasileiro ainda busca aquele lance decisivo através da técnica e por isso “erra muito”.
São estilos. Pouco compreendidos pela onda de puxar saco gringo, é claro. Mas são estilos.
O Alecsandro, se europeu, tocaria de lado e tentaria se posicionar pra cabecear. Aqui, ele tem o “direito” de tentar e as vezes fazer um golaço de bicicleta.
Deveria tentar mais do quer fazer o prático? Não sei.
Mas funciona assim.
Outro dia um renomado treinador me dizia em off que a diferença é simples. O jogador brasileiro tenta toda vez que pega na bola uma jogada que decida o jogo. Mesmo os que não sabem decidir.
Walter, Seedorf, Alex, Juninho. O que eles nos ensinam?
Acho prático tirar como conclusão disso que “o nível é baixo” ou que “os caras são genios”.
Na real pode haver algo mais pra se notar. Em um futebol mais lento e cadenciado, há possibilidade da técnica ser mais importante ainda que o físico, desde que a técnica seja muito alta, é claro.
Porque Djalminha não está jogando, por exemplo?
Walter não é um gordo de sorte. É um garoto que foi considerado pelo Inter sua maior jóia por anos e anos, titular da 9 nas seleções de base do Brasil e vendido para o Porto.
Lá, se deu mal. Mas fez seus gols.
Os problemas com peso vieram e no Cruzeiro, emprestado, quase nem jogou. Até que o Goiás acreditou e o colocou mesmo acima do peso. Walter não é um atleta profissional, mas é craque.
E craque é craque.
Talvez não lá, mas aqui, onde a tentativa de um lance resolver tudo ainda é maior do que a paciência de tentar o “comum”, ele é notável.
Se emagrecer, é claro que temos uma jóia nas mãos. Mas fatalmente já devem ter notado que o problema do garoto é mais do que “preguiça”. Nem internado num clube ele perdeu peso.
Gordinho, seria destaque pela cena as vezes meio ridícula. Mas não. Consegue ser destaque por fazer a bola rolar, não por correr igual um maluco atrás dela.
Walter não mostra o fim dos tempos no Brasil, nem que o Goiás será campeão do mundo, menos ainda que viramos amadores.
Mostra que quem tem que correr muito ainda é a bola. Não o craque.
Mas só sabe fazer isso quem é craque. Não atleta.
abs,
RicaPerrone