Ah, minha Guiné Equatorial! Quantas e quantas noites de sono perdi pelo regime ditatorial que tantos irmãos atingem naquele país.
São incontáveis as vezes que orei por eles. Que me neguei a receber um presente da Nike porque sei que sei da exploração de mão de obra pelo mundo.
Me lembro como se fosse hoje que ao assistir a um jogo do Chelsea na TV eu torci contra, afinal, o dinheiro do clube é quase todo sujo, tal qual muitos outros do adorado futebol europeu que sempre renegamos em virtude de nossa ética.
Meus deputados honestos que me orgulham e que jamais me traiam. Meu partido que prometeu “acabar com tudo isso”, dobrou, e eu sigo militando por ele.
Ah meu bairro querido, aquele que corri pra longe no primeiro dinheiro que ganhei. Esses racistas estúpidos, imagine? Minha empregada é negra…
E esse governo corrupto que diz não saber de nada e faz vistas grossas pra tudo que há de errado? Fosse eu, que denuncio os gatos da net da vizinhança e que me importo com as carteiras de estudantes dos não estudantes, nada disso seria assim.
Não é verdade?
Essa Beija-Flor, canalha, que recebe patrocínio de um governo, tal qual outras 904043 escolas já receberam um dia pra falar daquele lugar. Mas a Beija-Flor não pode, pois deveria “perder ponto em enredo”, afinal, há um ditador por lá.
A Portela falou do nosso Rio. Não citou governador, arrastão e nem ala com balas perdidas. Mas falou do Rio. E neste caso, merecia ser campeã. Porque não ganha há tempos. Se ganhasse, não mereceria por ser repetitiva em seus enredos. Certo?
Dos mil defeitos que tem a Beija-Flor, e que fique claro que também não gostei do enredo, um deles não é ser a única coisa neste país que não se importa com a origem, desde que chegue em nossas mãos.
O carnaval é organizado pela contravenção há 200 mil anos e nunca ninguém se importou com esse dinheiro. Até porque, convenhamos, a contravenção é parte fundamental e importantíssima no que se transformou o desfile do Rio, como disse o Neguinho. E concorde você ou não, aceite. Porque é um fato e citá-lo não é um erro. Fingir que não sabia, sim.
Sou capaz de apostar meu braço esquerdo que 90% dos rebeldes virtuais não sabem onde fica a Guiné Equatorial. Destes, 50% não sabiam de sua existência. E deles todos, 99% nunca souberam que havia ditadura por lá.
Nem se soubessem reclamariam. Afinal, outro dia uma escola foi campeã com dinheiro do Chavez e ninguém abriu o bico.
“Então um erro justifica outro”, dirá o desesperado hipócrita. Não, não justifica. E em momento algum alguém disse ser bom, concordar, ou renunciar a verdade. Apenas compreenda que se é pra dar xiliquinho, dê sempre.
Não quando convém. Porque aí chama-se hipocrisia.
abs,
RicaPerrone