Foda-se o penalti
No dia 3 de março de 1953 nascia Arthur Antunes Coimbra, o Zico. Quase 60 anos se passaram e a única coisa que este sujeito fez na vida foi brilhar. No campo, como dirigente, como embaixador, como ícone, como treinador, como pai, como avô, como ídolo. Muitos tem capacidade com a bola nos pés. Alguns conseguem suportar a fama e manter uma carreira tão gloriosa quanto correta. Raríssimos conseguem levar o rótulo de uma derrota sem se abalar.
Apenas um consegue representar 35 milhões de pessoas e não cometer um ato sequer que diminua ou apague essa adoração.
Zico nasceu em Quintino Bocaiuva, Rio de Janeiro. Daí, e do seu pequeno porte físico, o apelido “Galinho de Quintino”.
Chegou ao Flamengo com 14 anos, e lá ficou até os 30.
Ali, diante da maior torcida do mundo, no maior estádio do mundo, marcou mais de 500 gols.
Conquistou apenas Mundial, Libertadores, 4 Brasileiros, 7 cariocas e alguns outros torneios pelo mundo.
Foi a Copa de 1982, a mais adorada de todas, como o maior craque dela. Perdeu, como os outros 21 perderam.
Foi machucado à Copa de 86, e de heroi virou vilão.
Vilão dos tolos, diga-se.
Perdeu um pênalti que até hoje dói na alma de cada torcedor, e provavelmente na dele.
Foi rotulado, criticado, esmagado por muitos. Foi consolado por uma nação, que jamais viraria as costas ao seu maior ídolo.
Como sempre digo, todos tem ídolos. O Flamengo tem “o ídolo”, e os outros ídolos.
O jovem de 20 anos, que sequer viu os gols do Galinho ao vivo, o adora.
O senhor de 50, que viu, reviu e não cansa, o agradece eternamente.
Zico transformou o mais popular time do mundo no maior time do mundo. Foi dos pés dele que sairam os principais gols até que o Flamengo fosse ao topo do planeta em 1981.
Foi com sua venda que muitos choraram de tristeza. E com sua volta que os mesmos choraram de alegria.
Foi ali, naquele antologico Maracanã, palco onde só brilha gente grande, que o Galinho fez sua história.
Lá, no México, os raros infiéis do futebol acharam motivo para desmerece-lo.
Acharam, não. Inventaram.
Zico se mantém assumindo responsabilidades desde que nasceu. Assumir a 10 do Flamengo é algo que poucos tem capacidade de fazer.
Pedir a bola em decisões, idem.
Perdoar quem lhe quebra o joelho, menos ainda.
Assumir um cargo público, criar uma lei que muda o esporte nacional, inventar o futebol em um país e ainda ousar voltar a seleção para tentar colaborar, é uma carreira de muita coragem.
Mais do que coragem: Exemplo.
Zico jamais arranhou sua imagem perante a nação rubro-negra e ao bom torcedor brasileiro, aquele que não tem o direito de não reverenciar o talento do Galinho.
Falar da qualidade técnica dele é chover no molhado. Quem viu, viu. Quem não viu, tenha plena certeza, não verá nada igual.
Sua carreira se resume a 2 números: 1.180 jogos e 826 gols.
E ele não era centroavante…
Era muito mais do que isso.
Zico foi o herói de 35 milhões, anti-herói de outros 140 milhões por um dia.
Eu tive a honra de ver este sujeito jogar futebol e devo a ele o fato de amar futebol e não apenas um time. Devo, indiretamente, minha profissão e minha carreira ao dia que vi aquele cara com a 10 do Flamengo e fui na sala perguntar: “Pai, porque o Zico não joga no nosso time? Eu quero ele aqui!”.
Não o conheço, e está na minha listinha dos 10 maiores sonhos que tenho apertar sua mão.
Eternamente alguns ingratos jogarão na cara aquele argumento estupido do penalti para diminui-lo. E eternamente haverá sensatos torcedores para gargalhar diante de tal absurdo.
A frase mais famosa da conquista do hexa do Mengão em 2009 cabe como uma luva neste caso, nesta historia, nesta carreira gloriosa e brilhante.
Foda-se o penalti.
Feliz Natal, nação rubro-negra.
Feliz aniversário, Galinho.
abs,
RicaPerrone