À moda antiga
Um dia, no CT, conheci um zagueiro encostado lá pelo presidente. Uruguaio, sem conseguir falar portugues direito ainda, foi extremamente simpático e humilde. Conversamos rapidamente, e ele foi embora.
Não me lembro nem o assunto. Mas fiquei impressionado pela postura do sujeito. Jogador fala com você olhando pros lados, normalmente se acha melhor que os outros. Ele não.
Depois de um tempo, através de amigos em comum, soube que Lugano chorou por horas quando seu país ficou fora da Copa de 2006. Soube que seu sonho de disputar o mundial era enorme, e que ali nascia uma meta: Disputar o mundial com o Uruguai.
Em dezembro do mesmo ano, Lugano foi campeão mundial pelo São Paulo. Numa festa, sem microfones, lhe perguntei se estava “resolvido o problema” de não ter ido ao Mundial de 2006 com a seleção.
“Não, nunca. É diferente. Eu amo o São Paulo, sou o mais feliz do mundo, mas é diferente”, ele me disse.
Um dia, quando a Estação Tricolor engatinhava, resolvemos convidar um jogador pra participar do programa. Era tipo um podcast do SPFC. Kadu, amigo nosso e amigo do jogador, armou a entrevista, e ele nos atendeu.
Não eramos conhecidos ainda. O site não era nada! Ele nos deu entrevista como dá pra Globo. Já ídolo em campo, se tornava fora dele também.
Já na Turquia, veio passar férias no Brasil. O encontrei no Mc Donalds e falei: “Lembra de mim? Entrevistei você …”
E nem terminei de falar, ele desceu do carro, me abraçou e perguntou como estava, como ia o site, como iamos todos nós, etc. Contei a ele que a torcida ainda o adorava e que cada gol dele na Turquia virava notícia no nosso site. Ele disse: “Eu sei. Muito obrigado, eu leio todas as notícias do São Paulo todos os dias na internet”.
Até que tive a oportunidade de conversar com ele por uns 30 minutos um dia, sem gravações, sem nada. Eu, ele, ct vazio, e papo de boteco. Ali, enquanto fazia tratamento no Reffis, me contou da vida na Turquia, do amor pelo São Paulo e um pouco sobre a seleção.
Eu fiquei emocionado porque uruguaio tem uma postura que muito admiro. Eles amam o país, fazem tudo por ele, são brigadores, guerreiros, mas não se acham melhores que ninguém. Sabem da limitação e buscam superar com vontade, ao contrário de outro sulamericano que são limitados e se acham deuses.
Ele dizia que queria ir a Copa uma vez e poder honrar a camisa do Uruguai, que estava em baixa, e que machucava ele. Ele queria representar seu país, sem dinheiro em troca, meramente por amor a sua bandeira.
Foi convocado, virou capitão. Levou seu país a sonhada Copa de 2010, onde não apenas conseguiu fazer seu dever como está perto de uma decisão, machucado, sem poder atuar na semifinal.
Lugano tem alma, vergonha na cara e respeito a camisas e bandeiras.
Ele é sondado por diversos clubes do Brasil, e sempre liga pro SPFC pra saber se podem comprá-lo antes de negociar. É claro que, não podendo, ele virá pra outro clube, o que não tem nada de traição nisso.
Diego tem seus valores bem claros e conseguiu ser ídolo de uma torcida que sempre adorou a técnica, não a raça. Mas, mesmo sendo grosso com a bola nos pés, até violento as vezes, Lugano se tornou um grande ídolo do São Paulo e da seleção uruguaia.
Na Turquia, todos adoram o zagueiro. Não porque joga um absurdo, mas porque tem postura, caráter, honra o que veste e age como um igual, não como certas estrelas da bola que tanto endeusamos.
Das centenas de jogadores que conheci na vida, Lugano é um dos que mais respeito. Pela humildade, pelo amor verdadeiro a seu país, ao clube que o projetou e pela honestidade com que busca seus objetivos.
Hoje, mesmo tendo em jogo o fato do Brasil só ter saído da Copa de 90 pra cá contra finalistas, vou torcer pelo Uruguai. Mas principalmente por Lugano, que não jogará, e que merece voltar na decisão.
É exagero dizer que o Brasil precisava de Luganos na seleção. Lá, temos zagueiros melhores que ele, e a mesma falta de controle emocional dos nossos ele também teria, pois é altamente emotivo.
O que precisamos é de brasileiros como Lugano. Não no campo, mas na rua, nos clubes, em todo lugar. Gente que respeite seu país, que o ame de verdade e que lute por ele. Gente que tenha gratidão por quem o ajudou, que seja leal aos seus companheiros e que não se esconda na derrota, nem se considere deus na vitória.
Para torcedores de outros clubes, ficará um tom exagerado no ar. Para os tricolores, nenhuma dúvida sobre o que estou falando.
Eu não sei se o Uruguai merece ir a final mais do que a Holanda. Mas o Lugano merece, tenho certeza.
abs,
RicaPerrone