A conversa que não ouvi
Ouvi falar que Mário Gomes enfiou uma cenoura no cu. Todos ouviram. Ouvi que ele era um fracasso por estar fora da TV, e agora li e ouvi chacota por ele “acabar” vendendo sanduíche na praia.
A única coisa que eu adoraria ter ouvido, não ouvi. Mas adoro pensar que ela existiu.
– Pai, é justo você estar aqui na praia após tanto sucesso?
– Não sei filho. A vida é assim. Você sobe, cai, levanta, é assim com todo mundo.
– Mas o senhor era um sucesso, pai!
– Pois é filho, mas acontece. Já tive tudo, hoje talvez não possa esbanjar, talvez eu tenha cometido erros…
– Mas pai porque você não usa seu nome e sua fama pra arrumar um esquema bom pra sair dessa?
– Arrumei. Vou vender sanduíche na praia.
– É legal, pai?
– Sim, muito. Você pode tocar violão, eu fico sem camisa, os fãs vão poder falar comigo, e ainda vamos passar tempo juntos!
– Parece bom! Porque os outros não fazem isso quando tem problemas?
– Porque dá trabalho, filho. Fere o ego, mostra fragilidade e humildade. Perde-se o status e ninguém vendendo sanduíche ganha like no instagram…
– Porque você saiu da tv?
– Parte disso foi por conta de uma mentira a meu respeito que me tornou uma piada nacional sem que eu pudesse me defender.
– Nossa pai, e você não se revoltou?
– Sim. Em algum momento. Mas segui trabalhando, te criei, e hoje vamos vender nosso sanduiche! Pronto?
– Pai…
– Oi, filho!
– Te amo.
“Ah, mas é foda ver um ator tão famoso chegar a vender sanduíche na praia!”
Foda é ver o ex-famoso pagando plano de saúde pro filho ter condições básicas de atendimento enquanto o filho de outro político qualquer está andando de lancha em Angra dos Reis regando churrasco pra 200 convidados numa ilha paradisíaca.
Mário podia meter uma lei de incentivo, podia entrar pra política usando o nome que fez, podia arrumar outras mil formas de ganhar dinheiro mais fáceis que essa. Mas nessa ele pode levar o filho e mostrar o que está fazendo.
Tem muita gente tomando vinho caro de cabeça baixa porque não dá pra olhar nos olhos do pai.
abs,
RicaPerrone