O futebol no Brasil virou um grande brinquedo de video game. Um homem controla tudo e todos e o resultado aparece ou não. Se o clube vence, foi o treinador genial. Se perde, foi o treinador burro. Não há nada e nem ninguém no entorno dele.

Vojvoda é o herói do Fortaleza. Jesus do Flamengo, Abel do Palmeiras, e assim por diante. O torcedor segue bebado na idéia de que um treinador é o maior responsável por fazer as coisas darem certo num ciclo onde 11 jogam e outros 300 trabalham pra que eles joguem.

Agora vamos aos fatos, sem tirar o mérito óbvio dos comandantes.

O Fortaleza começa sua jornada em 2018. De lá pra cá são resultados consistentes, titulos, disputas com os gigantes, e o Vojvoda não era o treinador ainda. Ceni era o técnico, levou os méritos. Saiu, entrou outro, mais e mais resultados. Será que não tem aí, talvez, quem sabe, mérito do trabalho do clube como um todo?

O Palmeiras do Abel é incrível. Inegável. Mas o Palmeiras de 2015 até a chegada do Abel disputou títulos, conquistou alguns deles, foi forte e competitivo e os treinadores eram Cuca e Felipão, com passagens ruins de Roger e Mano. Será só o Abel?

O Flamengo ganha há 5 anos. E lá passaram mais de 10 treinadores, onde vários ganharam títulos históricos. A base rende, vende, o clube lucra, se paga, contrata e vence. Será que a base do mecanismo é mesmo a figura do treinador?

Cuca e Felipão não carregam os méritos dos títulos que conquistaram com times bem mais fracos que os recentes. Ceni já virou história com as boas campanhas do Vojvoda. E os outros vencedores do Flamengo pareciam interinos de Jesus e até hoje vivem essa sombra de terem parte do elenco que viveu o cometa que passa de 30 em 30 anos em 2019.

Quanto é do clube? A resposta está na troca do comando e manutenção das vitórias. Fases duram meses, no máximo alguns anos. Mas a consistência de Flamengo, Palmeiras e Fortaleza não estão apenas atreladas a um trabalho em campo. Tem que ser cego ou dessa turma moderna que acha que é um jogo de FIFA onde um homem comanda tudo.

É saber vender e comprar, revelar, gerenciar, dar condições de trabalho, bons estádios, gramados, marketing, gestão. Tudo isso funciona pra que o time vença com Abel, Felipão e Cuca. Nenhum dos 3 ganharia nada se a base do Palmeiras não funcionasse.

O Flamengo não teria 150 milhoes de dolares nos últimos 5 anos sem sua base. Impacta, né? Talvez isso seja a diferença entre ter ou não mais 4 craques no elenco.

O Fortaleza comprou praticamente o mesmo X que vendeu nos últimos anos. E paga em dia.

O Palmeiras criou uma potência de base que não existia, um estádio lucrativo e uma base que lhe rendeu 147 milhões de dólares nos últimos 5 anos.

E aí eu pergunto, meus caros, será que é justo dar o crédito total aos treinadores e também o demérito total a eles quando perde numa maquina tão gigante onde só olhamos pro cargo mais exposto?

Ou será um acaso os 3 times que citei serem os mais bem administrados dos últimos anos?

RicaPerrone