Fluminense

Ateus tricolores

Dizem que Deus existe e quase todo mundo acredita nisso. Alguns por medo de duvidar e ser punido, outros por ter no que se apegar, outros por mera lavagem cerebral. Há quem diga conversar com ele, há quem acredite ter visto.

Existe de tudo, menos a certeza.

Certeza teríamos se a lógica da tal justiça divina fosse clara todo santo dia. Não é. E não sendo, testa nossa fé.

A fé nada mais é do que uma dose de esperança no imponderável.  É a não justificativa do que esperamos para nós mesmos, merecendo ou não.

Torcedor do Flu tem fé. Poderia te-la perdido quando na série C, mas manteve. A testou em 2008 exaustivamente e lá estava ele, o tal “Deus”  dando provas de sua existencia naquele gigantesco Maracanã.

Contra o Arsenal, Deus desenhou. Contra o São Paulo, Deus existiu. Contra o Boca, Deus se divertiu. Na decisão, onde usou sua geografia para equilibrar o impossivel através da altitude, preparou um cenário perfeito para mais um de seus milagres.

Lá estavam seus fiéis, seus instrumentos e a hora marcada. O mundo todo assistiria ao milagre ao vivo, mas Deus não entende nada de futebol.

Em 82 mostrou isso e foi “suspenso” por si mesmo permitindo que naquilo não houvesse lógica ou qualquer senso de justiça. Desde então transformaram um esporte numa “caixinha de surpresas”, excluindo qualquer justiça divina de seus placares.

Ele voltou. Queria provar que os anos de observação lhe deram o dom do entendimento sobre o tal futebol. Deus criou o homem, o homem criou o futebol e Deus achou graça no que fez.

Durante todo o caminho acreditavam ser dele as ordens para um roteiro tão dramático, perfeito, justo, épico e cruelmente apaixonante.

Até que ele permite a virada, o herói, o espetáculo, o drama, menos o final feliz.

Naquele dia quase 100 mil tricolores no estádio e outros milhões de suas casas dormiram ateus. Não havia lógica, justiça, argumentos suficientes para convencer ninguém, nem mesmo o diabo, de que aquela gente sairia dali chorando e não sorrindo.

Todo o caminho para se chegar a lugar algum? Cadê seu Deus, perguntava o ateu?

E de fato, ninguém sabia.

O diabo, que se vestiu de Hector Baldassi naquela noite para assistir sua arte de perto, sorria.

Infiéis, sairam calados, aplaudindo por obrigação o que nunca entenderão ter tido um final infeliz.

A maior e mais dramática história de um torneio jamais será contada como glória, mas sim como tragédia. Talvez porque tenha que ser assim, se sua fé for tamanha para acreditar.

Ou talvez porque ele nem exista, se sua razão lhe permitir ponderar.

Ou, na mais provável das alternativas, porque ele não tenha tido nada com isso e os milagres tenham sido operados pelo Fluminense, não por alguém lá em cima.

Deus, existindo ou não, dizem controlar todas as coisas. Só o futebol que não.

Este ele deixou pro diabo se divertir.

Mas a incompetência satânica é tamanha que mesmo para verdadeiros atentados terroristas como aquela final em 2008 há uma injustiça divina.

Assim como Thiago Neves, mesmo sua enorme competência pode passar desapercebida num dia incomum.

E por isso o diabo fez o que fez, e no final todos levavam as mãos a cabeça para dizer: “Meu Deus do céu…”, incrédulos.

Porque o título pode ficar onde o diabo quiser. A história ficou nas Laranjeiras.

Graças a Deus.

abs,
RicaPerrone

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