Diferentes
Em nenhum lugar do mundo 400 km podem ser tão distantes como os da via Dutra.
Paulistas e cariocas são vizinhos que se completam, mas não podem aceitar isso por mera vaidade. Enquanto um cuida da piscina, o outro chega de terno e pensa: “Vagabundo…”.
De bermuda e chinelo, o outro retruca de boca fechada: “Criado pela vó… “.
Mas convivem em paz. Porque todo “criado pela vó” quer ir na piscina e todo “vagabundo” precisa ganhar dinheiro.
Paulistas contam orgulhosos na sexta-feira o quanto não puderam curtir a semana pelo tanto que trabalharam. Cariocas contam na segunda de manhã o quanto se divertiram.
Em São Paulo nos vestimos pra tudo. No Rio, pra quase nada.
No transito, paulistas são mais educados. Até pelo tempo que passam nele pra aprender a ser. Cariocas tentam tirar vantagem em qualquer troca de pista sem seta.
Paulistas não trocam de pista. Se trocar, matam um motoboy.
Amizade em São Paulo tem etapas. Você conhece, se aproxima, ganha confiança, intimidade até que um dia se tornam grandes amigos e então não se desgrudam mais.
Cariocas te conhecem e se tornam grandes amigos em 15 minutos. Depois, somem e voltam a te encontrar daqui 6 meses. Ainda assim, jurando ser seu grande amigo.
Paulistas saem pra comer. Cariocas, pra beber e petiscar.
Cariocas preferem o dia. Paulistas, a noite. Natural. O Rio mal funciona a noite. São Paulo não funciona entre as 4h32 e 4h35 aos domingos. Só.
“Funcionar” é um termo mais em moda em São Paulo do que no Rio.
“Meu” é o “porra” dos paulistas. “Irmão”, o “velho” dos cariocas.
São Paulo te permite passar uma vida sem ver a pobreza a sua volta. No Rio você não vai a padaria sem nota-la.
Tão longe, tão perto. Tudo tão caro.
Cariocas sorriem mais fácil. Paulistas buzinam na mesma intensidade. Quando um problema não é resolvido, paulistas ficam até resolver. Cariocas resolvem amanhã.
Os dois gostam de Shopping. Só paulistas assumem isso.
Na terra da garoa, garoa. Pra caralho.
No Rio faz calor. Pra caralho também.
Cariocas tem orgulho do Rio por ser bonito. Paulistas tem orgulho de São Paulo pelo PIB. Em Sampa a vida pode ser explicada em números quase sempre.
São Paulo não pára. O Rio pára. Aliás, basta um artista vir cantar aqui que pára tudo.
Paulistas se orgulham da pizza do italiano, do filé argentino, dos restaurantes japoneses, mexicanos e árabes. Paulistas são o mundo em menor escala. Tem tudo. Mas tudo de todos.
Cariocas se orgulham do Rio. Nem se importam em “não ter” uma cantina por bairro. Desde que tenha um boteco, é claro. Um mundo só deles, que não copia quase nada dos outros. É muita marra.
Cariocas se abraçam mais vezes. Paulistas abraçam mais forte.
Aqui, no Rio, o pobre mora no alto. Aqui, não se separa tão fácil. Aqui, o pobre e o rico trocam de papel muito rápido. O patrão paga a empregada e corre pra vê-la sambar mais tarde. É inacreditável.
O maior evento da cidade é quando um morro desce e passa para os aplausos dos patrões e gringos. Pobre, no Rio, é protagonista.
Em são Paulo a pobreza fica longe. Podemos passar uma vida sem ver nada disso de perto e sem saber como é. Lá, na periferia, se canta o ódio contra a “burguesia”.
No Rio, um funk sensual para a morena descer até o chão.
Carioca competem menos. Perdem mais quando competem.
Em São Paulo você sabe onde e quando oferecer uma ajuda a alguém mais humilde. No Rio, não. Ele pode estar apenas mal vestido, o que não implica em ser necessitado.
Roupas dizem muito sobre você em São Paulo. Cariocas precisam tira-las para se julgar.
Futebol no Rio é diversão, ainda. Em São Paulo, competição.
“Negão”, no Rio, é um negro grande. Em São Paulo, já é ofensa.
Sempre a frente, paulistas antecipam tendências. Inclusive as ruins.
Ketchup na pizza é de foder. Mas eles colocam aqui no Rio. É tipo “gelo no sorvete”. Mas, vai entender… Cariocas não ligam tanto para “o que” comem. Talvez para “quem”.
Mulheres paulistas são bonitas. Cariocas, gostosas.
Paulistas vivem olhando pro relógio. Cariocas, pro céu. Não a toa um se atrasa e o outro se estressa.
Ao ler isso aqui, Paulistas contestarão os fatos. Cariocas darão risada deles.
abs,
RicaPerrone