Era só uma Copa
Eu defendo muito a tese de que “É só futebol”. Talvez por ter sido obrigado pela profissão a entender que era só isso, ou talvez para conseguir me manter sem ódio dos rivais do meu time para conseguir ser justo com eles.
Mas pela seleção, mantive. Usei quase que como uma forma de alimentar meu lado torcedor passional e cego. Odiando argentinos, torcendo desesperadamente e não fazendo qualquer esforço para tentar mudar isso.
Fiz dessa Copa o meu maior momento. E na carreira, foi mesmo. Tive uma audiência absurda, fiz diversas propagandas, consegui faturar um dinheiro, bater recordes, ser lido pelos jogadores, até receber pedido de “ajuda” com textos motivacionais e campanhas que pudessem chegar a Grande Comary.
Me envolvi até o pescoço. Como há muito tempo não conseguia me envolver com nada. Eu nunca tive certeza da vitória, mas eu a desejei como poucas vezes na vida desejei alguma coisa.
Eu trocaria todos os centavos que ganhei a mais na Copa por ser campeão e poder correr pra abraçar meu pai no dia 13 de julho. Eu trocaria todo sucesso que meu trabalho fez durante a Copa para poder chorar de alegria com amigos que jamais dividiram uma arquibancada comigo.
Eu voltei a ter 8 anos. Voltei a ser o garotinho que pedia pelo Zico e que esperava o time do Telê ganhar a Copa. Esses 30 dias espetaculares que nosso país viveu devolveram muito do que eu não queria ter perdido enquanto profissional de imprensa.
Eu chorei, vibrei, sofri, pulei, gritei. Discuti, perdi a linha, torci contra, xinguei. E até mesmo ver o meu “inimigo” chegar longe me divertiu, pois eu vislumbrei um duelo final.
Eu comprei camisetas, bolas, fulequinhos e tudo mais para afilhados, filhos de amigos e outras crianças com quem tenho contato. Vi nos olhos delas o que havia nos meus em 86.
Levei 10 horas de estrada pra ir ao Mineirão. Um pneu furado, uma carona apertada, um reboque, um perrengue danado. Só pra estar lá.
E quando acabasse aquilo, tudo que eu queria era poder chorar entre os meus ou comemorar com eles. Eu nunca imaginei viver pra ter na tela do meu computador um grupo de brasileiros debochando de nós mesmos em troca de “ter razão”.
Eu sinto realmente pelas pessoas que acham que isso tratava-se de um campeonato de futebol. Tenho vontade de sentar cada um deles na minha frente e explicar o que é futebol pra uma geração que está sendo criada para minimiza-lo através de uma imprensa azeda, mal paga, de olhar opaco e pessimista.
Não é pelo hexa, meus amigos. É pela Copa com meu pai, que não sei quantas terei. É pelo direito de abraçar meus amigos que não dividem o amor por um clube. É pela festa, pelos amigos, pelo orgulho, pelo hino que só posso cantar emocionado num estádio de futebol.
Pelo único lugar onde ser brasileiro com “muito orgulho” não é ridículo.
É pela minha carreira, pelos meus planos, pelo dinheiro e pelo alcance do que faço. Mas principalmente, juro, pelo garoto de 8 anos que eu reencontrei nestes 30 dias de Copa.
Se você torceu contra, eu fico realmente chateado. Eu queria dividir essa dor com você, não disputar quem se importou menos.
Eu queria consolar meus leitores brasileiros pela tristeza de terça-feira, jamais ter que me defender de alguns deles.
Eu queria estar na final. Queria conseguir chorar a porra da lágrima que está presa na minha garganta desde as 17h30 de terça-feira, quando sai daquele estádio a pé, sem rumo, ligando pra minha esposa e pedindo: “Me tira daqui! Compra uma passagem, mas me tira daqui!”.
Eu amei ver aquele Mineirão sofrendo chorando com a seleção. Não porque desejei isso, jamais! Mas porque sei que o mundo virtual azedo e sempre negativo é muito mais virtual do que real.
Eu não consegui chorar ainda. Porque toda vez que chego perto disso, alguém transforma minha tristeza em raiva com algum deboche ou comentário negativo.
Não foi engraçado.
Se não por David, Julio, Neymar e Fernando, pelos milhões de crianças que como eu e vocês viveram isso um dia tendo como principal objetivo da sua vida “ser campeão”.
Agora nossos objetivos e deveres são outros. E se eu pudesse, trocaria todos eles pra viver apenas o sonho de ser campeão. Foi o que fiz por 30 dias.
E até domingo eu espero conseguir chorar tudo que ainda não tive tempo, entre textos, compromissos e discussões filosóficas sobre o futuro do futebol.
Mas juro, o que mais me machuca não é a derrota, os 7×1, nem mesmo se a Argentina for campeã no Maracanã domingo. O que está me judiando é ter que me resguardar pra não ver brasileiros rindo de brasileiros.
Isso pra mim é insuportável. Mais do que qualquer título rival ou eliminação humilhante.
Eu só não queria que ninguém desse risada de eu não ter realizado o sonho de ver o Brasil na final com meu pai.
O futebol não é nada além de uma desculpa para reunir pessoas, explorar sentimentos e perder o senso do ridículo por alguns minutos.
Eu não quero sua audiência falando que avisei que perderíamos. Eu queria a sua audiência pra chorar comigo num texto do hexa.
Tá doendo. Vocês não tem idéia do quanto ainda dói. Mas eu juro que faria tudo de novo. E farei, porque durante a Copa, num dia qualquer, prometi pra mim mesmo que não deixaria de ser esse idiota apaixonado por futebol que ainda sou.
Eu ainda vou escrever o post do hexa.
abs,
RicaPerrone