“Espera aí, vó!”
Era 23h59 minutos quando olhei em volta e vi um mar de celulares apontados pro horizonte. Via também famílias, amigos, pessoas que pagaram uma nota para estarem lá, pela roupa que usavam e especialmente pelo celular que carregavam.
A primeira coisa do ano é registrar pros outros o que eu “vivi” com os meus.
E quando a contagem regressiva começa os celulares nas mãos aumentam ao invés de diminuir esperand0 o abraço.
Quatro, três, dois, um….
“Genteeee! Olha que lindo!”
“Feliz ano novo, Brasil!”
Brasil? E a sua mãe? Seu amigo?
Ah, também estavam filmando o céu ao invés de te abraçar. E então restou aquela senhora com seus 70 anos, sem nenhuma certeza de passar outro ano novo com os seus olhando para lá e pra cá esperando um abraço e, pasmem, recebendo filmagens dos amigos e parentes “olha a vovó!!!”, e ela de braços abertos constrangida sem recebe-lo.
Aos poucos os 15 segundos dos stories acabaram e os abraços começaram junto das selfies. O que se dizia no ouvido de alguém a meia noite virou público. Falamos abraçados olhando pra camera.
Não sei se o que ouvi era pra mim mesmo ou pra mostrar. Que pena. No meu ouvido há alguns anos era certeza que era só pra mim e que era real.
Feliz ano novo, Brasil! Pra senhora especialmente, vó. Não a minha, que se foi. Mas essa que em breve irá e que teve seu ano novo atrasado em alguns segundos porque as pessoas precisavam mostrar pros outros que estavam se divertindo antes de dizer a ela o quanto a amavam.
RicaPerrone