Copa do MundoSem bola

Manipuladores manipulados

“A Globo manipula”.  Com absoluta certeza você ouviu essa frase pelo menos uma vez nas últimas 72 horas. Afinal, a repetem o dia todo, todo dia, como ótimo argumento de defesa para justificar a “ignorância do povo”.

Eu não odeio a Globo. Ao contrário, acho uma puta emissora com defeitos e qualidades como qualquer outra. Mas sobre a manipulação, me perdoem, quem somos nós pra falar deste assunto?

Desde a criação das redes sociais também temos o poder de inventar, espalhar, julgar e manipular.  E desde então, fazemos muito pior que a Globo.

A manipulação da opinião alheia não é uma maldade. É um instinto. Podendo, naturalmente você coloca as coisas da forma que lhe interessa.  Você, a Globo, quem for.

Nada mais emblemático do que os rótulos dados a Ronaldo e Pelé, eleitos pelo povo e parte da mídia (não a Globo) como os ícones de um momento onde o povo é feito de bobo.

Quantos de vocês já tiveram a curiosidade de ir ver se Pelé e Ronaldo realmente disseram aquilo que lhe contaram? Quantos viram, ouviram e ainda assim entenderam a maldade que colocaram na frase solta quando contextualizada com a pergunta?

Pelé nunca disse pra parar manifestação alguma. Ele pediu apenas, e com razão, que não confundissem os problemas do país e revolta popular com o governo com o time de futebol que está em campo. E foi até claro, mas deu brecha para que covardemente criassem um ícone para desmoralizar a troco de nada.

Pediu que não vaiassem o time. Que soubessem separar as coisas.

Só isso.

Mas ouve-se o que convém, espalha-se o que interessa. Isso sim, meus caros, é manipulação.  Tão feia quanto as que insinuam partir da emissora X ou Y, só que mais cruel ainda, já que a verdade está na sua frente e nos negamos a ver pra ter com o que se revoltar.

Ronaldo, questionado numa pergunta imbecil sobre hospitais e estádios, disse o óbvio do óbvio:  Pra fazer uma Copa precisa fazer estádios, não hospitais. Ele foi chamado pra cuidar da Copa, não pra ser ministro da saúde.

E sim, mil vezes sim: “Não se faz uma Copa com hospitais”.  Se faz mil coisas muito boas. Mas uma Copa, não. Pra isso precisa fazer estádios de futebol.

Só que a filha da putagem alheia elevou a frase simples de Ronaldo a uma filosofia que discute se é mais importante um estádio ou um hospital.  E então, com uma frase solta e muita má fé, transformaram mais uma resposta comum e lógica num motivo de revolta virtual.

Se por acaso você nunca viu a entrevista toda, nunca leu, pode ler a de Pelé aqui e a de Ronaldo aqui.  Ambas reduzidas, mas já com a frase seguinte e a anterior, o que muda em 99,8% o contexto do que foi dito.

Mas talvez não mude a má fé de quem as interpretou com raiva para manipular quem está a sua volta. Os mesmos caras que, coitadinhos, se sentem parte especial da sociedade não manipulada pela Globo.

Entendo, cada dia mais, que nada é mais insuportável a um brasileiro do que alguém fazendo sucesso. E então, o menosprezamos até estar no mesmo patamar que nós.  Já que subir até o dele é muito mais difícil.

abs,
RicaPerrone

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