Vasco

O fim

 

Um dia tudo acaba. Sua vida, seu emprego, seu namoro, sua paz.  Sua saúde, seu direito de dirigir, sua força, sua relevância.  Saber conviver com o fim é algo muito difícil e pouco condenável, pois todos passam por esse processo e tem dificuldades.

Eurico mistura dificuldade com dignidade. E se perde no meio do caminho.

Não entende que acabou. E sim, acabou.  O coronel que gritava na CBF e resolvia hoje grita e vira piada no outro dia.  Ninguém mais ouve.  Suas bravatas são humor, não causam mais terror.

É um ex dono de morro prometendo matar geral só que desarmado. Um cão sem dentes latindo na porta de casa.

Mas a casa, essa sim, é preocupante.

Não mudou. Ainda é uma mansão que guarda ouro, história, valores e muito poder. E lá está o cachorro, agora idoso, sem dentes, ainda latindo na porta.

O respeito acabou. Ele não morde mais.

Mas late. Porque é o que ainda dá pra fazer: latir, latir, latir.

Mais um dia que prova o sequestro do Vasco. O quanto o clube tem um dono ilegítimo, que tomou a “boca” por pressão, que comprou a oposição e deixou mudo o conselho.

Eurico é o ser que menos ama o Vasco no planeta hoje. É ele, ele, ele.  A guerra do cão sem dentes pra tentar morder alguém.

Eurico, meu caro, você não morde mais. Ninguém mais teme você. Seus pares estão todos no fim, o reinado acabou. A “gangue” acabou.

Mandam no carioca. Que também está no fim. E deve ser constrangedora a reunião de vocês com charutos bradando que podem, que fazem, que resolvem, e que no fundo estão apenas simulando uma sobrevida impossível.

Acabou, cara.

Sai.

Mas sai feito homem e deixa o Vasco em paz. Ou além de acabar pro clube, você vai conseguir destruir a única coisa que levou da vida: a certeza de que foi um grande vascaíno. E então, sem isso, você não só não será mais nada como terá o dom de também não ter sido.

Acabou.

abs,
RicaPerrone

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