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Pão e circo!

Senhoras e senhores, o show vai começar. Como sempre, a Copa começa, a ceninha de desinteresse surge, os convocados não prestam, os que ficaram são reis e esse negócio de Copa é só pra brasileiro enforcar o trabalho.

Ninguém liga pra seleção! É da CBF, do Dunga, de não sei quem. Na verdade, trata-se de “pão e circo”. E o povo, burro, cai nessa.

É o que dizem, né? Sempre, todo ano, toda Copa.

Tudo que é divertido é imoral. Tudo que é festa é vagabundagem. Tudo que é alegria é tratado como “falso”, e tudo que é ruim exaltado com um orgulho azedo de dar dó.

Pão e circo, é o que dizem!

O povo, patriota só na Copa, está feliz. Mas ele repete o que diz a mídia e por isso tenta esconder a verdade de si mesmo. Dizem por aí que a Copa é tudo que o governo quer para poderem fazer as merdas deles sem ninguém notar.

Verdade.

Dizem que Copa no Brasil é pão e circo.

Dizem até que esse negócio de Copa é exagero. Mais um caso de “pão e circo”, onde o povo se ilude com uma mera competição esportiva que na realidade não tem nada a ver com o Brasil, mas sim com CBF, futebol e direitos de jogadores.

Quem diz isso, pasmem, são os cronistas esportivos, aqueles que podem ser chamados, em alguns casos, de palhaços.

Sim, pois quem apresenta circo é o que? Palhaço.

Quem cobre futebol e diminui sua importância nas entrelinhas é tão inteligente quanto um camelô que avisa: “É uma merda a imagem. Mas é barato, compra ai pra ajudar”.

O que foi aquilo que vimos hoje e terça-feira aqui? Talvez por irem as Copas alguns de meus colegas não saibam o que está acontecendo, mas vou contar pra vocês.

Camisas vendidas? Milhões! Cornetas, bandeiras, ruas, bares, alegorias… tudo verde e amarelo.

As 8 da manhã em dia de jogo tem vuvuzela tocando em todas as janelas possíveis dos bairros de Sampa. E pelo que sei, igualmente no Rio, Salvador, Porto Alegre, etc.

Este é aquele povo que já não liga mais pra seleção, que se recusa a torcer pela CBF e que não cai no “pão e circo”.

Hoje, as 15h40, não havia carro na rua.

Poucas vezes vi tanta gente com a camisa do Brasil como nesta Copa. Talvez porque a Nike tenha colocado a venda por 20 reais…? Não, tá 160.

Também me deparo, com uma dose de prazer razoável, com cenas das mais engraçadas, como o sujeito que “nem liga” xingando loucamente em frente a TV o gol perdido.

Mas xinga porque, filho, se nem liga?

E a imprensa corneta tanto o “time da CBF” porque, se é acima disso tudo e não entra nessa onda tosca de patriotismo de Copa?

Quanta soberba. Quanta gente mentirosa.

O país parou, como sempre parou. O país torceu, como sempre torceu.

E vai sofrer, com as vezes sofreu, em caso de derrota.

A internet deu voz a razão irracional. Deu voz a milhões de pessoas que, para não serem comuns, inventam serem de outro planeta.

É o prazer do “eu já sabia”  falando mais alto.

Onde estão os mesmos que pediram Ganso na Copa para questionar a verdadeira condição do garoto, que agora está operado e sem poder jogar? Onde está o bom senso deste jovem genio que já ganhou 10 Copas do mundo para OMITIR sua lesão em troca de lobby?

Não, não estou escrevendo este monte de besteira porque ganhamos, nem porque exagerei na Brahma.

É que me comove andar na rua e ver o quanto é diferente o que dizemos do que sentimos. O quanto temos necessidade de reclamar de tudo, de auto-menosprezar tudo que sentimos e culturalmente fazemos.

Não é feio parar de trabalhar em dia de Copa. É lindo!

Não é falso patriotismo chorar com o hino na Copa. É bonito!

Não há nada de errado em se revoltar com uma convocação e amanhã, no dia do jogo, olhar em volta e ver que era tudo raiva de momento e que você continua nervoso pela seleção, feliz em reunir os amigos e vestir aquela camisa que o mundo se borra de medo quando vê.

Mas não podemos, porque ser comum, hoje, é ser ignorante.

Sinto que todas as pessoas que estavam nas ruas hoje e que agora, 19h30, ainda fazem barulho e gritam nas janelas com suas vuvuzelas, não tem internet! Sim, eles são os sem conexão. Pois os conectados, estes sim, estão dormindo ou estudando economia.

Não aceitam o pão e circo. Somos superiores, não caimos nessa.

Sabe o que é mais estúpido que “pão e circo”? Deixar tudo como está, reclamar feito louco, não ir ao circo e não comer o pão.

Isso sim é desperdício.

Com a seleção, sempre! Com Dunga, Parreira ou Luxemburgo, é a bandeira do meu país que sobe naquela porra de estádio pra não sei quantos bilhões de telespectadores.

Pachecão, patriota de Copa, seja lá como for. Dane-se.

Eu acordo nervoso, como unha o dia todo, junto os amigos, me enrolo na bandeira, preparo a carne, grito o jogo todo, xingo, comemoro…

Eu sou um idiota.

Mas entre ter razão e ser feliz, prefiro ser feliz.

E sexta-feira repito tudo de novo. E se Deus quiser, até dia 11.

“Porque futebol não é caso de vida ou morte. É muito mais do que isso. ”

abs,
RicaPerrone

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