Patrulha e solidariedade
É chato mesmo você ficar solidário a um povo vítima de alguma coisa e ser censurado por pessoas que, naquele momento, estão mais preocupadas em questionar seus critérios do que “ajudar” ou se solidarizar com as vítimas.
Bandeira da França, dos gays, de Minas, pouco importa. Alguém sempre irá questioná-lo quanto a sua hipocrisia. Até porque, meu caro, convenhamos, ela existe em todos nós e escapa do nosso controle exatamente em ocasiões como essas.
Não neguemos a razão da patrulha. Eles tem argumentos bastante consistentes para contestar nossa bandeirinha da França, embora não deixem de ser chatos para caralho por isso.
Não fizemos nem post quando 2 mil morreram em janeiro na Nigéria pelo mesmo motivo. Porque não vamos a Nigéria, porque não conhecemos ninguém lá, porque não deu mídia suficiente e porque nigerianos, em nosso sentimento de pena, valem menos do que franceses. Ou após 2015 isso deixou alguma dúvida?
Mineiros valem menos do que cidadãos que transitam em Paris. Assim como há alguns anos 2 mil vidas americanas valeram muito mais dos que as 210 mil vidas na síria que já foram tiradas pela guerra.
Nos consternamos pelo que bem entendemos. E isso basta como explicação, desde que tenhamos claro em nossa mente que somos sim um bando de hipócritas.
Afinal, 160 pessoas morrem todos os dias no Brasil vítimas de um tiro. Tá “na conta”, foda-se.
Entendo e concordo que tragédias são tragédias, números são números. Mas sim, fiquei mexido com a da França, e em seguida, com a patrulha, me senti um tanto quanto hipócrita mesmo. Eles tem razão!
Talvez num momento inoportuno, numa atitude secundária a solidariedade mundial, mas incontestável razão no seu ponto.
Nós precisamos que alguém seja esfaqueado na lagoa na zona sul do Rio para sentirmos o que pessoas sentem todos os dias nas periferias e nós não estamos nem aí.
Somos super acomodados com nossos roteiros pra evitar zonas de perigo e não nos importamos com a violência até que aquele amigo é sequestrado e toma um tiro. Então, vamos as redes sociais e até as ruas perguntar “até quando”?
Até quando?
Na real essa é uma ótima pergunta. Até quando vamos escolher pra qual ser humano olhar e sentir pena? Até quando vamos ser hipócritas de fingir que nos importamos com as pessoas quando na verdade nosso problema é com a proximidade daquilo com nossa realidade?
Ninguém vai pra Mariana. Mas pra Paris, todos querem ir ou conhecem quem vai. Ninguém vai a Belford Roxo, mas na lagoa todo mundo passa.
Dói quando nos colocamos na pele da vítima. E como nos recusamos a usar uma pele que não usa hidratante ou que não simboliza nossa cor, selecionamos nossa solidariedade.
São chatos, sim! Mas com incontestável razão no que nos cobram. E se toda vez que nos jogam uma verdade na cara rejeitarmos quem jogou ao invés de repensarmos essa verdade, vamos continuar achando que a violência da periferia não tem nada a ver com a que sequestra seu irmão no sinal da zona sul, ou que os africanos sofram menos do que franceses quando massacrados por bombas.
Paz pra todos. Não só para os nossos.
abs,
RicaPerrone