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“Querendo demais”

Tirando ex-prostitutas e ex-presidiários, a maioria das pessoas sabe que o passado de todos importa. E se você discorda disso liga pro seu cartão de crédito e pede o triplo de limite, vê se ele vai te dar.

O passado é uma credencial conquistada. O Coutinho e o Hulk tem essa credencial. Um pelo conjunto da obra, o outro pelo passado. Mas curiosamente as expectativas geradas no futebol brasileiro giram mais em torno do passado do que dos fatos.

Coutinho pode errar, jogar mal, não tem problema. É fase, mesmo que longa, a gente sabe o quanto ele joga bola. Mas tem dias, como hoje, que o desenho fica tão claro na nossa frente que é preciso emoldurar.

Hulk é o principal jogador do Galo há anos. Jogou bem na Ásia, aqui, na seleção, enfim. Carreira firme, grandiosa, regular e ativa. Coutinho jogou mais do que ele. Em 2017. E desde então despenca com raros surtos de bom futebol.

O passado nos atormenta mas também nos motiva. O torcedor sabe que não terá o Coutinho de 2017, mas espera ter surtos dele. Ou, na pior das hipóteses, o posicionamento de líder dessa jornada.

Lucas em 2023 entrou no São Paulo meteu a bola embaixo do braço e levou o time ao título. Hulk já é campeão. E não, eu não acho que o Coutinho tinha que ter levado o Vasco a final. Acho outra coisa.

Qual a maior característica do Coutinho? O chute de média distancia. Quantas vezes ele tentou isso mesmo num campo molhado?

Enquanto o Hulk usa créditos da sua dívida pra lá de paga no Galo pra brigar por cada lance e pedir a bola até quando não precisa, Coutinho se escondia esperando a bola perfeita.

A bola perfeita era pra você achar, não pra receber.

É penalti. O batedor de faltas da seleção na Copa de 2018 não vai tentar bater, se oferecer pelo menos? Não vai arriscar nada diferente? Nem mesmo liderar o time na armação das jogadas de desespero onde se costuma jogar a bola “nas mãos do Jordan”?

O Hulk pediu 20. Recebeu uma e tentou o lance improvável. O Galo está na final.

Pro Galo hoje era plano B. Pro Vasco, a vida. Pro Coutinho, imagino eu, uma rara oportunidade de se firmar como um jogador de destaque e referência onde ele “queria demais” estar.

Hoje era dia de deixar tudo em campo. O suor, os erros, as tentativas, a iniciativa de liderar o time.

Eu não me importo e nem me frustro com erros. Me frustro com quem erra pouco porque tenta pouco. Eu achei que hoje veríamos um rascunho de Coutinho em busca da glória. E vimos os fatos, de novo, pisando na história.

Hulk já tem e quer mais.

Coutinho é craque. Hulk é ídolo.

Todo craque quer ser ídolo. Nem todo ídolo é craque.

O Hulk não é melhor que o Coutinho.

Mas isso se baseia em história ou fatos? Porque nem eu consigo me convencer mais disso após tantos anos assistindo o contrário.

Coutinho, ainda há páginas em branco. Escreva-as se expondo. Ou um Ribamar qualquer vai passar errando tudo e virar o ídolo de fato dessa gente que te ama a troco de quase nada, ainda.

RicaPerrone

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