Sobrou pro treinador
Eu detesto política no futebol, especialmente levá-la ao torcedor. Acho que promove quem não interessa, tira uma dose de mística da coisa e joga muita verdade no que é mantido por sonho e paixão.
Não ignoro. Apenas não exploro.
Renato Gaúcho foi demitido hoje pela manhã e discute-se desde então se ele dava treinos ou rachão. Se era melhor com Sobis ou sem, e se o treinador dava o rumo tático ideal pra equipe.
Porra nenhuma.
A demissão do Renato é mais uma no natural processo de troca de ciclo que Flu e Corinthians se recusam a entender. Todo time campeão após alguns anos pára de ganhar e não há treinador que arrume. Chama-se “acomodação”.
Não tem nada a ver com nada. Na real este grupo só não tem a mesma fome que tinha há 4 anos e nada os fará sair da zona de conforto natural que o ser humano entra após conquistar muita coisa.
Justifica a série B? Não.
Mas passa pela sua cabeça, torcedor, que o Fluminense tenha perdido de 3 pro Horizonte por algum problema tático?
Acho que não, né?
Abel, Luxemburgo, Renato. Pode trocar quantas vezes quiser. Um departamento de futebol desgasta naturalmente e nenhum time, tirando o Santos de Pelé, ganhou mais de 5 anos (em média) sem haver uma queda natural até encontrar um novo grupo disposto a recomeçar toda esta fase.
Não são “irresponsáveis”. É natural. Você talvez não tem idéia do que é um ambiente de grupo de futebol, com ego, treino, pressão, mídia, resultados, troca de diretoria, interesses de empresários, etc. Não é o BBB. Há um desgaste muito forte.
O ciclo talvez tenha terminado. Talvez esteja passando por uma troca de líderes e referências, enfim.
Não é o Cristovão, o Joel, o Renato ou a puta que pariu que vão chegar com uma varinha mágica e resolver desde o problema de relacionamento entre Unimed e clube até a zaga que não se encaixa e o ataque que não se movimenta.
A demissão de Renato é fruto, também, – e eu diria que principalmente – de uma pressão interna forte para que o Flu se posicione contra as intervenções impostas pela patrocinadora.
É um “recado”. Um posicionamento. Um “basta”.
Não é o rachão. É mais do que isso. A demissão de Renato Gaúcho é uma ação política interna necessária para estabelecer limites de um dos lados. Também normal. Acontece em toda co-gestão.
O sensacionalismo com que isso é tratado nem é maldoso. As pessoas formadas para levar notícia até você não tem idéia do que é gerenciar empresa, negociar situações, gerir marcas, e principalmente administrar paixão.
Nada do que está acontecendo no Fluminense é estranho, pouco previsível e incomum. Ao torcedor vai parecer o fim do mundo, como aliás, toda derrota domingo parece.
Mas o torcedor não pensa, só torce. Quem deve pensar são os que administram. Quem entra no futebol tem que saber que ninguém vence o tempo todo e que nem todo problema é facilmente identificado e solucionado.
Ja faz mais de um ano que o Fluminense está tentando entender porque parou de funcionar. Desconfio não ser o treinador.
E apostaria alto que, no fundo, eles também. Mas antes de tudo isso há uma satisfação a ser dada entre parceiros, um recado a mídia e uma justificativa pro torcedor.
Essa é tua, Renato.
abs,
RicaPerrone