Futebol

Vocação

Criada na década de 70, campeã logo em seguida. Promovida a elite do futebol nacional, destroçada por um acidente que comoveu, doeu, mas lhe apresentou ao mundo.

A Chapecoense parece ter vocação para escrever uma das histórias mais incríveis do futebol mundial.

Que clube é esse que perde a Libertadores de manhã e consegue dormir feliz com o “dia histórico”?

O que foi a queda, a comoção mundial, a união gerada, a marca lançada e o título conquistado?

O título estadual meses após a tragédia. O status de “celebridade” foi conquistada com suor e “azar”.  Mas foi.  E hoje a Chapecoense tem a chance de ser o primeiro clube sulamericano a usar o conceito europeu de fãs para se transformar num gigante.

Como? Explico.

O Barcelona não é o que é porque tem torcida. Na palestra que fui há pouco tempo de um dos diretores do clube, a explicação da evolução da marca é bastante simples:  Conceitos basicos inegociáveis, um clube voltado para ter fãs e não torcedores doentes. Sustentado pela simpatia, não pelo amor.

O time que joga bonito. O time que não tem bad boy fazendo merda. O time que ataca. O time que toca a bola.  Esse é o Barcelona. E através disso o mundo simpatiza com ele, o acompanha e conhece sua marca registrada.

Eu lhes pergunto: Quais os valores do seu time?

Ele já foi de raça, hoje talvez jogue bonito. Já foi honesto, talvez hoje seja um clube parceiro de quem não deve. Já foi um lixo hoje é bem administrado? De que maneira se porta em campo? Qual o DNA que o seu clube respeita e ostenta?

Nenhum.

Os clubes brasileiros são todos voltados para torcedores, o que acho ótimo, diga-se.  Mas a Chapecoense está em Santa Catarina e terá enorme dificuldade em dividir torcida de massa com os grandes. Porque não ser o time que uniu o mundo, o time do fair play? O time das causas impossíveis? Da reconstrução?

A Chapecoense emociona quando entra em campo. Isso tem um valor enorme se bem explorado. Seus jogos tem que ser um marco por onde passa. O clube tem que andar o mundo e contar sua história de dor e recuperação. Não apenas entrar, jogar futebol e sair como os outros.

Os outros são os outros. São maiores, estabelecidos e com sua gente para apoiar.  A Chape pode ser o clube de toda essa gente, sem ser o primeiro, o exclusivo, mas sendo enorme dentro da sua proposta.

A vida parece empurrar pra Chapecoense o tempo todo o argumento de que ela está ali pra fazer algo mais do que jogar campeonatos e vender camisa. Mas acho que os dirigentes não conseguem ver, ou não tem coragem de ousar ir além do óbvio.

A Chapecoense representa mais do que uma cidade. E é um razoável desperdício ver isso ser tratado como “mais um clube de futebol”.

Sorte que quem a protege não dorme. Diria eu que nem almoça, nem janta…

abs,
RicaPerrone

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