118 anos em 90 minutos
O fundo do poço não havia chegado. As quedas não foram suficientes para levar o vascaíno ao mais constrangedor momento de sua história, que foi ver um Maracanã lotado pedindo por um clube pequeno de São Paulo salva-lo de um vexame.
Naquele momento misturava-se a raiva, a paixão, a frustração e o medo. Guardado no peito estava o orgulho que por motivos óbvios não podia ser exposto ali.
O time do Vasco fez um primeiro tempo para selar o pior momento dos seus 118 anos. Apático, andando em campo, perdendo, dependendo de terceiros para voltar a série A. Torcida xingando, gritando por ídolos do passado e sem nenhuma perspectiva de ídolos futuros em campo.
O intervalo será um segredo eterno da história desde 118 anos. Mas alguma coisa ali aconteceu, e em poucos minutos o Vasco viu o Maracanã vermelho de vergonha se tornar alvi-negro de orgulho novamente.
O jogo virou, o orgulho saltou da garganta incontrolavelmente e toda a raiva ficou escondida pelo amor. Torcedor de futebol é a coisa mais bonita que existe. Ele consegue tirar de onde ninguém mais consegue um sentimento puro e incondicional. Este sim, incondicional. O dos seres humanos entre eles mudam conforme atos, situações, oportunidades. Esse não muda.
E o semblante dos vascaínos retratava tudo que podia ser dito sobre on Vasco em 2016. O cara que com as veias saltadas de ódio xingava no intervalo chorava abraçado à camisa e fazia juras de amor ao clube.
Ele sabe, racionalmente, que o Vasco fez o básico do básico e fez muito mal feito. Mas racionalizar futebol é como enxugar gelo. Além de não fazer sentido, não tem motivos para tal.
O jogo acabou, o sentimento não para, o Vasco voltou. Os problemas continuam, a administração tosca idem. Os jogadores talvez em sua maioria também sigam ali. Mas também tudo que foi construído em 118 anos se mostrou intacto no Maracanã.
Enquanto houver essa quantidade de pessoas com aquele sentimento pelo Vasco, é inabalável sua grandeza. Embora brinquem com ela, ainda passa longe de vê-la derrotada.
O Vasco é enorme. E se muita gente ali não merecia subir, aquela gente toda que não faz parte DESSE Vasco mas são a razão dele existir, sim. Essa gente merece.
abs,
RicaPerrone