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Doutor Jesus

O treinador do Flamengo disse que os treinadores brasileiros são ultrapassados. Essa declaração poderia bastar para o auê todo, mas na verdade há uma frase junto disso que diferencia uma opinião estúpida e despeitada de uma análise.

Quando um jornalista brasileiro vai lá e desmerece um treinador com 20 anos de carreira como se estivesse falando de um imbecil qualquer, é despeito, burrice e covardia.

Jesus não fez isso. Ele deu a causa e o diagnostico. Não foi uma atitude arrogante a troco de nada.

Ele explicou o que nós temos preguiça –  ou má fé – de expor na hora de criticar nossos profissionais. Sim, o treinador brasileiro nunca precisou fazer uso de metade dos conceitos coletivos dos europeus porque nós resolvemos na técnica.

Isso nem chega a ser uma crítica. É uma constatação cultural, histórica e elogiosa aos nossos jogadores.

Ele poderia ir além. Explicar que pela origem dos nossos jogadores nem sempre é possível se aprofundar taticamente. Que grande parte volta da Europa exatamente porque não tem preparo pra compreender algo mais complexo.

Jesus não fez uma crítica. Fez uma análise.

A diferença brutal é que ele sabe que se desenvolveu mais por precisar e os nossos menos por não precisar. Quem nasce rico não sabe trocar lampada. Quem nasce pobre sabe.

Isso não diminui o rico. Só constata diferenças no processo de criação e evolução. Nessa história os treinadores brasileiros foram por décadas os filhos ricos. Papai dava tudo. Enquanto os europeus tinham que brincar com o que dava.

Até que futebol virou dinheiro, o dinheiro tá lá, eles passaram a comprar tudo que a gente tinha a mais que eles e então, somando o fato de não serem mimados com nossa técnica, se transformam em profissionais melhores.

Isso é uma crítica bem feita. O que se faz aqui é perseguição, ofensa gratuita e má fé em troca de clique.

Jesus não foi sequer indelicado.

RicaPerrone

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