Futebol

Eu odeio o “Bragantino”

Nunca escondi minha torcida pelos clubes grandes e meu honesto desprezo por ações que fingem ajudar times pequenos quando na verdade só os transformam em clubes de empresários pra esquemas.

Dito isso, nunca dei a mínima pro Bragantino. Então aqui não vai qualquer sentimento pessoal.

Eu acredito em SAFs. Acredito que tudo deva ter dono. Mas acredito que no caso do futebol o maior ativo de um clube é a sua torcida. Se isso ficar fora da equação é só um mercado de compra e venda de jogadores e nada pode ser mais nocivo ao futebol do que esse objetivo ser único ou principal num clube.

Explico.

Se você comprar o Cruzeiro você tem milhões de pessoas pra dar satisfação. Pode vender jogador a vontade, mas seu grande objetivo é ganhar títulos, vender pra toda aquela gente e, por consequencia, vender jogador, fazer melhores negócios, etc. O título é seu fim. Por diversos motivos, mas é seu objetivo.

Quando você compra um time sem torcida o título é meio e não o fim. Ele quer vencer pra valorizar jogador, não pelo clube ou pela torcida. Nunca haverá direitos de tv caros pra time sem torcida, nem mesmo venda de ingressos, camisas e patrocinadores. Portanto, seu único grande objetivo ali é vender jogador e/ou fazer esquema.

No caso da Red Bull, empresa enorme, é pra ganhar dinheiro e fazer marketing. O marketing mais inteligente que existe. Ao invés de comprar a camisa do Flamengo ele joga contra o Flamengo. É brilhante!

Mas pro futebol, é ruim. Muito ruim.

Mas não seria melhor ter times fortes e bem treinados como o Red Bull? Sim, não fosse o risco.

Quando o Red Bull compra o Bragantino ele conta uma mentira. Ele nunca comprou o Bragantino, tanto que acabou com ele. O Bragantino não existe mais. É vermelho, com touro, o nome da marca e nada do clube. Só a sede, nada mais.

Entenda isso pela média ridícula de público de 5 mil pessoas de um time que faz uma das melhores campanhas de sua história. Simplesmente porque não há história. É um novo clube.

Um clube que nunca comprou o Bragantino. Comprou a vaga do clube na série B do Brasileirão pra antecipar feitos. E logo trocou cores, logo, nome, e fim. É o Red Bull, não mais o Bragantino.

Ficou sendo o nome pra TV não falar Red Bull quando não quiser. Ou pra dizer que tem história e tradição. Mas é mentira.

Trabalho bem feito, marketing brilhante, nota 10 pra Red Bull. Mas eu amo futebol mais do que cases de marketing e quero que a Red Bull se dane se o contraponto do seu sucesso for o bem do futebol.

Não é uma corrida de F-1. É paixão por um clube que move o futebol. Identificação. Ninguém ama uma lata de energetico.

Amanhã podemos ter 15 clubes na série A disputando o Brasileirão com jovens pra revender pra Europa e fazendo marketing pra 10 mil pessoas no estádio. Sequer os medalhões que trazem público eles buscam pois não dá pra revender.

Em 2030 podemos ter Red Bull x Bradesco na Arena Herbalife. 5 mil pessoas, uma vitrine de jovens, a tv obrigada a dar 2 horas de marketing pra eles pelo Brasileirão e o objetivo alcançado. Mas e o futebol?

Quem chora pelo gol do Bradesco? Que pai vai com o filho mostrar a história do banco Itau? Futebol é um entretenimento ligado a paixão. Não a resultados.

A Disney jamais colocaria seus personagens com a roupa do Bank of America, justamente porque o que move aquilo é nossa identificação e sonho, não um negócio simples de compra e venda.

Você tem que conhecer seu produto melhor do que todos pra vende-lo. A CBF é seguramente a entidade que menos entende o significado do futebol no Brasil. E portanto não podemos contar com ela pra evitar a colonização do futebol brasileiro.

Mas também não conte comigo pra achar normal uma empresa engolir um clube, mudar logo, nome, cores e se passar por ele pra não ser rejeitada como uma intrusa fria num ambiente movido por paixão.

A Red Bull foi brilhante em seu negócio. Mas o meu negócio é futebol. E por tudo isso eu torço muito pra que o Red Buil ganhe muito dinheiro e nenhum título.

Um gol do Red Bull nunca será 1% do que um gol do Palmeiras. Pode colocar o dinheiro que for. Nem tudo está a venda.

O Volei não gerou paixão até hoje por clubes embora seja um esporte popular porque?

Porque ninguém torce pro Rexona, embora ele ainda divida o nome e não tome pra ele. Mas ainda assim, o Sociedade Esportiva Crefisa não ajudaria o Palmeiras. O mataria.

Mas aí você dirá: “Rica se o clube está quebrado é melhor que alguém o compre e faça direito”. Sim, mas se você soubesse o tanto de clube pequeno que já está nas mãos de empresários com a mesma intenção você ficaria em pânico.

É subir, vender jogador e a vaga na série A ou B. Está acontecendo. E pior: nesse mar de incompetentes, basta ser um gestor médio pra conseguir o feito.

Até que Red Bull e Tim façam a semifinal da Copa do Brasil pro interesse de ninguém, sem rivalidade ou paixão alguma. Nesse dia você vai entender do que eu estou falando.

RicaPerrone

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