Insuportável ser Julio César
Não há ninguém tão “em observação” quanto Julio César nesta Copa do Mundo.
São milhões de cornetas que até torcem por ele, mas esperam o erro pra dizer “eu avisei”. E como é saboroso ao torcedor e ao comentarista o “eu avisei”. Parece-me incontestável afirmar que há mais gente pronta para ter razão do que para ser feliz.
Julio é um goleiro espetacular. Tem uma carreira incrível, inclusive na seleção.
Cometeu um erro em 2010, junto do Felipe Mello, diga-se, e levou nas costas o rótulo de uma derrota onde uma expulsão e a covardia de um time que não pedia a bola foram muito mais protagonistas do que ele. Ou deveriam, pelo menos.
Julio sabe que toda vez que a bola chega perto da área milhares de olhos viram-se na sua direção avaliando cada movimento seu em busca de uma falha. O “eu avisei” sobrevoa a cabeça dele desde 2010 e ficou ainda pior com as escolhas meio absurdas por clubes insignificantes para atuar.
Ontem no estádio Julio foi ovacionado na entrada. E toda vez que a bola ia na sua direção parecia que alguém gritava em seu ouvido: “não vai falhar, hein?”, tornando cada lance um tormento.
Julio não falhou. Achei falta sim, e nos demais lances achei que foi bem. Mas para ele não basta. Nem mesmo a perfeita Copa das Confederações e seus ótimos serviços prestados por 10 anos a seleção o perdoam pelo crime de ter errado na África e ter jogado no mais popular e odiado clube do país.
Julio é o erro que ninguém quer acertar. Mas se for dar errado, que seja nele. Assim, “teremos avisado”.
Eu confio no Julio César. Mas ontem vi que não estamos mais discutindo um goleiro e sim uma tese.
O que me deixou preocupado. Afinal de contas, queremos “ter razão”, “ter avisado” ou sermos campeões?
abs,
RicaPerrone