Tudo que não somos
Não somos raçudos como eles, nem apaixonados pela seleção. Não temos a mesma força na arquibancada, nem mesmo a declarada torcida incondicional da mídia.
Não estaríamos focados em passar, mas em preparar a pauta para a eliminação. Não somos patriotas, não somos “fechamento”. Somos um bando que cobra, não que empurra.
Não flertamos tanto com o fracasso. Mas também não idolatramos tanto nossos heróis.
Não lembramos com a mesma intensidade das nossas conquistas, mas torturamos nosso vilões até que a morte os absolva.
Pra nós é fácil. Sempre foi.
Somos tão diferentes que conflitamos conceitos sem que precise estarmos no mesmo campo. A sua vitória é a vitória da catimba, da raça, da guerra, da malandragem. A nossa, do futebol.
A sua é marcada por sangue. A nossa por samba.
Teu garoto rasga a cara na grama pra se dizer argentino, o nosso mete uma caneta e dá risada. Somos debochados, vocês, arrogantes. Nós temos motivos, vocês não.
Somos tão maiores que discutimos internamente se os apoiaremos. Vocês, conhecedores de seu devido lugar, não pensam duas vezes em jamais estar do nosso lado.
Aqui a mídia acha lindo e se emociona com a torcida por vocês. Mas se recusa a torcer pela nossa, mistura política, dirigente, faz uma merda sem tamanho e depois vive rolando em cima dela.
Argentinos são torcedores mais fiéis que nós, sem dúvida.
Mas quase invariavelmente as torcidas mais fiéis vem dos times mais sofridos. Pela lógica, nem torcida teríamos, já que somos a referência, somos os donos, a inspiração, a porra toda.
Deve ser uma merda ser concorrente da Ivete Sangalo. Ser filho do Zico. Irmão do Alisson, irmã gêmea da Gisele Bundchen.
Por isso, de alguma forma, te admiro, Argentina. Eu não sei se teria estrutura emocional pra tentar ser algo tão impossível e desmoralizante quanto “o rival da seleção brasileira”.
Parabéns! A gente se vê na Russia. E reza pra ser de longe, porque frente a frente… já sabe.
Abs,
RicaPerrone